Drummond Comparado: o poeta das sete faces & outros
foto: divulgação |
Carlos Drummond de Andrade nasceu no ano de 1902 na cidade de Itabira em Minas Gerais. Foi escritor no sentido mais completo da palavra: poeta, cronista, contista e, antes de tudo, um romântico. Seus textos espalharam-se pelo século XX e ainda fascinam gerações atuais. Sua genialidade e intimidade com as palavras conquistaram tanto, que suas obras foram traduzidas para diversos idiomas e o poeta das sete faces foi considerado o maior e mais importante de seu tempo.
“Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.”
Poema das sete faces –
Carlos Drummond de Andrade
Tamanha sensibilidade do autor despertou nas estudantes do curso de Letras da Universidade Federal de Pelotas, Francieli Borges e Patrícia Hoff, a ideia de colocar em prática o projeto “Drummond Comparado: o poeta das sete faces & outros”. O projeto, orientado pela Profª Drª Cláudia Lorena Vouto da Fonseca e pelo Prof. Dr. João Luis Pereira Ourique, tem como objetivo estudar o autor de forma mais profunda e específica, coisa que a faculdade não proporciona visto que necessita abranger diversos conteúdos, conforme explica Francieli: “O objetivo é ampliar a visão do autor, que é visto somente como poeta, e trabalhar, não só a linguagem literária, mas, também, as questões que não são vistas em sala de aula, dedicando mais tempo a uma abordagem histórica e as questões sociais presentes nas obras, por exemplo.”
Os encontros, que ocorrem no auditório do Instituto João Simões Lopes Neto, começaram no dia 10 de maio e terminam na próxima quinta-feira, dia 21 de junho. Ao todo foram 36 inscrições e, em média, 20 inscritos comparecem aos encontros, número que ainda é pequeno considerando a importância do projeto, que visa enriquecer a bagagem intelectual dos futuros professores. Questionada sobre a importância do trabalho desenvolvido pelas colegas, a estudante do 7º semestre de Letras, Elizangela Ficher, ressaltou a necessidade de buscar preparo fora da universidade. “No curso de Letras estudamos a literatura como um todo. Quanto mais se lê, mais surge vontade de estudar os autores, o que proporciona conhecimentos específicos e leituras mais profundas e direcionadas. Além de ser um incremento para o currículo, participar de projetos assim é uma forma de esclarecer alguns pontos e matar aquela sede, para que possamos passar o conhecimento de forma mais clara aos alunos. Se tiverem outros projetos como este, venho participar também”, falou Elizangela.
Segundo Francieli e Patrícia, a ideia de estudar especificamente Carlos Drummond de Andrade foi tida pela afinidade com o autor e sua obra, além de avaliar que seria interessante ao público, composto não só por estudantes do curso de Letras, mas, também, de Filosofia, Ciências Sociais, Música, entre outros. O grupo lê os textos escolhidos e todos comentam alguns aspectos em especial. “A ideia é propiciar um debate, no qual exista transmissão de conhecimento para que haja um aprendizado mútuo”, diz Patrícia Hoff. E a proposta tem dado certo. A participação dos presentes é constante e é exatamente o que enriquece os encontros, assim como a multiplicidade de interpretações e a intertextualidade que os participantes enxergam para além das obras que são trazidas.
Francieli Borges e Patrícia Hoff |
O projeto ainda retoma os conceitos literários estudados em sala de aula e mescla textos de diferentes autores, permitindo leituras diversificadas e um estudo aprofundado sobre as obras do autor. Isso é o que Juliana Toazza Grossi, que é formada em Letras pela UFPel, almejava quando se inscreveu para participar do projeto: “Minha maior expectativa em relação ao projeto de extensão era conhecer a obra de Drummond mais profundamente, porque, durante a faculdade, só tive duas disciplinas de poesia e não cheguei a realmente ler Drummond. Acredito que o projeto foi bem funcional em relação a isso. Apesar do autor ter uma obra muito vasta, acho que, para 6 encontros, o projeto conseguiu abordar vários textos e um pouco da biografia também. Gostei de ter participado!”
Para o Prof. Dr. João Luis Pereira Ourique, um dos orientadores do projeto, o principal ponto positivo desse tipo de trabalho é a relação que ele proporciona entre o ensino, a pesquisa e a extensão. Segundo Ourique, isso possibilita, além de uma formação qualificada, o debate no campo dos estudos literários. “Minha visão do trabalho, tendo em vista que ambas são minhas bolsistas de iniciação científica, é a melhor possível, contando sempre com meu apoio e estímulo, não apenas na orientação teórica, mas também no auxílio visando diminuir os entraves encontrados”.
O projeto das estudantes encontrou amparo no modelo de estágio desenvolvido no âmbito da UFPel desde o ano de 2009, porém, como qualquer projeto, encontrou dificuldades e impasses – público eclético, local adequado para desenvolvimento dentro da Universidade, necessidade de revisão dos conceitos literários fundamentais, entre outros. Segundo o orientador, essas dificuldades se constituem no principal elemento formativo, por apresentarem um panorama consistente acerca de todo o processo comum à prática pedagógica – planejamento, execução e avaliação -, somados a uma visão peculiar que se estende para além dos momentos de sua aplicação.
O debate sobre a literatura comparada de autores específicos ainda precisa de mais iniciativas como a do projeto em questão, visto que a necessidade de conhecer o mundo literário – e os diversos mundos que este pode propiciar – não é apenas dos estudantes dos cursos de Letras. Para Ourique, essas iniciativas são fundamentais à formação acadêmica: “Há uma demanda e uma carência muito grande ainda de se oportunizarem debates sobre literatura nos mais variados espaços com responsabilidade e qualidade”, diz.
Público presente no evento |
Quando questionadas sobre uma possível continuidade do projeto, Francieli e Patrícia contaram que, apesar de não terem nada concreto, têm vontade de estudar e trocar conhecimentos sobre outros autores e gêneros literários que não são muito estudados na universidade. As futuras iniciativas, sem dúvida, só têm a enriquecer ambos envolvidos. Fica a sugestão de que não só os estudantes de Letras desenvolvam projetos com esse tipo de temática, mas também os das demais áreas do conhecimento, afinal, a literatura é mais uma forma de interpretar e conhecer o mundo.
Texto: Eduarda Schneider Lemes 18/06/2012
Fotos: Paula Moran